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7 mitos que a Apple está usando para justificar sua comissão de 30% sobre aplicativos

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A Apple gasta muito dinheiro nas relações públicas e no lobby para manter seu poder de monopólio. Se você seguir o debate em torno da cobrança de 30% de comissão que a Apple pratica e ver que isso resulta em preços mais altos e aplicativos inferiores, certamente você encontrará pelo menos uma das falsas narrativas divulgadas abaixo:

Mito 1. Uma comissão de 30% permite que a Apple mantenha uma App Store.

De fato, administrar uma loja de aplicativos custa apenas uma fração do que a Apple recebe dos desenvolvedores de aplicativos. A cada trimestre, a Apple lucra bilhões de dólares com aplicativos de terceiros. Enquanto isso, as despesas necessárias para hospedar e revisar esses aplicativos são de milhões de dólares (e não bilhões de dólares). Sabemos disso pois, no Telegram, são hospedados e analisados mais conteúdos públicos do que a App Store. Na verdade, qualquer empresa que administre uma enorme plataforma de vídeos precisa de mais servidores e mais moderadores do que uma empresa que administra uma loja de aplicativos.

Mito 2. Uma comissão de 30% permite à Apple reinvestir no desenvolvimento dos melhores iPhones.

Na realidade, a Apple tem cerca de US $ 200 bilhões em dinheiro em mãos – e não tem ideia do que fazer com isso. O dinheiro que a Apple retira de startups, e que seria necessário para o seu crescimento, fica parado aparentemente para sempre nas contas offshore da Apple. Nos últimos anos, a Apple tenta alcançar os telefones Android em recursos e hardware. Como Cupertino não inova mais e cópias não exigem um grande orçamento de pesquisa e desenvolvimento, os US$ 200 bilhões (que incluem os fundos ganhos dos desenvolvedores) na verdade não são usados ​​para melhorar os iPhones.

Mito 3. Qualquer um pode competir com a Apple se não concordar com a comissão de 30%.

O problema não é criar um sistema operacional móvel rival, mas fazer com que desenvolvedores de terceiros criem aplicativos para esse novo sistema operacional. Há aqui um círculo vicioso: os desenvolvedores não criam aplicativos se o sistema operacional não tiver usuários disponíveis e os usuários não compram os telefones se não houver aplicativos suficientes para eles. Até a Microsoft, com sua enorme influência entre os desenvolvedores, não conseguiu manter aplicativos (como o Instagram) no o Windows Phone, e a Microsoft teve que abandonar o Sistema Operacional. Portanto, não importa quanto você invista na construção de uma alternativa, o mercado de sistemas móveis em 2020 está fechado para novos participantes.

Mito 4. Sem o iPhone, os desenvolvedores de aplicativos móveis não teriam como distribuir seus aplicativos.

Não apenas é falso, como é exatamente o contrário: sem aplicativos de terceiros, poucas pessoas adquiririam um iPhone em 2020. A Apple não inventou os aplicativos móveis nativos e, se não fosse a Apple, outra empresa atenderia a demanda por um sistema operacional móvel usando toques, talvez alguns anos depois. Antes do mundo mudar dos desktops para os celular, os desenvolvedores de aplicativos já tinham milhões de usuários e pagavam zero de comissão para criadores de sistemas operacionais para computadores. Para os desenvolvedores de serviços ao consumidor, a chegada da App Store foi uma mudança para pior.

Mito 5. Qualquer desenvolvedor que não concorde com a comissão de 30% da App Store pode simplesmente criar aplicativos para Android.

Os desenvolvedores realmente não têm escolha entre iOS e Android: se você deseja criar um serviço socialmente relevante, terá que criar aplicativos para ambas plataformas (Apple e Android). Tente imaginar o Telegram ou o TikTok como aplicativos apenas para Android e entenderá rapidamente como não é possível evitar a Apple. Você não pode simplesmente excluir usuários do iPhone. Assim como para os usuários de iPhone, os custos para migrar de um iPhone para um Android são tão altos que podem ser classificados como um bloqueio monopolista (mais sobre isso no Caso Antitruste Contra a Apple, neste estudo realizado pela Universidade de Yale).

Mito 6. A comissão de 30% da App Store está alinhada com o que as outras plataformas estão cobrando.

A Apple acaba de publicar um estudo sobre outras plataformas, como o Google Play, do Android, afirmando que esta também cobra uma comissão de 30%. Essa comparação é irrelevante, porque o Android permite que seus usuários instalem aplicativos de fontes diferentes do Google Play. Pode-se até executar lojas de aplicativos concorrentes no Android. Quanto às outras plataformas mencionadas, na visão geral do mercado, elas não têm nada a ver com sistemas operacionais móveis e não estão nem perto de iOS e Android em termos do número de usuários/número de aplicativos/custos de troca para os usuários.

Mito 7. Fazer com que os reguladores observem as práticas da Apple vai contra o livre mercado e a concorrência leal.

Como visto no Mito 3, não há concorrência real no mercado de sistemas móveis, mas a Apple também não é um “livre mercado”, porque usa muito o poder dos reguladores para criminalizar o jailbreak e garantir o controle completo de todos os celulares que eles vendem. Como o monopólio da Apple é imposto pelos reguladores em primeiro lugar, é difícil justificar uma abordagem libertária para as suas práticas. Enquanto os governos usam a Apple para manter seu monopólio, eles também são responsáveis ​​por lidar com os efeitos negativos destas decisões.

Agora que as investigações anti-monopólio contra a Apple iniciaram na União Européia e nos EUA, espero que a Apple pare de espalhar os mitos descritos acima. Não podemos ficar inertes e deixar que os lobistas da Apple e os agentes de relações públicas continuem agindo. No final das contas, cabe a nós – consumidores e criadores – defendermos os nossos direitos e impedirmos que os monopolistas roubem o nosso dinheiro. Eles podem pensar que nos levaram a um bloqueio, porque já possuem uma massa crítica de dispositivos e criaram uma massa crítica de aplicativos para eles. Mas não devemos dar a eles essa carona grátis por mais tempo.

Pavel Durov

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